quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Belém-Pará-Brasil

Nossa língua paraense...

A riqueza do nosso falar encanta os que vêm de fora!!...
A linda Belém
Escritores, gramáticos, artistas,músicas, enfim, pessoas de todas as classes exaltam a cultura, a gastronomia, a cultura tupiniquin.
Vejam que bela homenagem sobre a "terrinha"...
"Escolhi a tarde para começar a pensar num texto, que nunca escrevi, para minha cidade, Belém.
Depois de arrematar o almoço com uma cuia de açaí, caminhei a passos largos para o escritório a fim de  evitar a chuva da tarde, que não marca mais hora.
Subir a ladeira da Doca com, pelo menos, meio litro de açaí no “bucho” , como dizem os repórteres policiais, é tarefa nada fácil.
Obviamente exausto, paro na porta, à sombra da velha mangueira, acendo um cigarro e espero aquele tempinho ideal para refrescar a pele e enfrentar o ar-condicionado sem muitos problemas.
Ligo o computador, aquela rapidez que todos eles têm ao serem ligados fazem-nos pensar até que ponto seriam eles paraenses.
Blagues a parte parto para a tela em branco. A gramática vem na cabeça. A idéia não.
Penso no que não foi dito da cidade das mangueiras. Vou até a janela àprocura de inspiração. Do outro lado da rua, debaixo de um sol de rachar aprecio D. Adelaide, a tacacazeira da esquina monta sua banca.
Hum, tacacá… Será que rola? A vontade de tomar um não traz nenhum benefício para as ideias. Preciso homenagear Belém.
Mil coisas na cabeça e nenhuma na tela do monitor. As horas passam. Alguém me cobra o texto. Digo que está tudo bem. Tudo bem uma pinoia.
Chego à  conclusão  de que sei viver Belém e não escrever sobre Belém. Isso fica lá pro Sobral, pro Valente, pro Laredo, pro João Carlos, pro Denis… Essa gente que só pensa naquilo: escrever.
E eu? Eu sei andar por aí. Sei me livrar do calor, sei tomar o tacacá da D. Adelaide, descer a Pres. Vargas depois de pegar a São Jerônimo (ah, mudaram o nome da rua?), reclamar dos ambulantes, da igreja que tomou conta do Cine Palácio pitiú de peixe. A “maré tá enchendo”, fala alguém.
Não dou um passo imune à admiração que tenho pela maioria dos prédios. Alguns nem tanto. Vou olhar a maré subir, de perto, no Estação. Uma boa desculpa pra uma cerpinha, duas, três… e o tacacá? Ah, o tacacá cura a ressaca, passa o porre, levanta.
Passa um, dois, três, sete… sei lá quantos barcos, pra cima e pra baixo. Tá na hora de ir. Putz, o texto sobre Belém…
Ai, minha Nossa Senhora de Nazaré, dai-me inspiração.
A chuva cai, sem dó nem piedade, bem na subida da Presidente Vargas, de volta ao escritório, à tela em branco. A chuva que cai no meu rosto lembra que naquele pedaço de cidade eu sempre me emociono no Círio, desde que era criança, quando a Santa e a corda sobem a ladeira e as lágrimas descem pelo rosto, como a chuva agora, até mais: encharco minha roupa.
Uma manga tira o fino da minha moleira e se oferece no chão.
O amarelo no liz: que beleza de manga.
Mais duas ou três na Avenida Nazaré. Não aguento mais manga, afinal tenho que guardar um lugarzinho na barriga pro tacacá.
O quê, pensa que esqueci? E com manga não faz mal? Ah, se faz vai-me fazer.
Palito os dentes de uma boca meio anestesiada pelo jambú e atravesso a rua pra cumprir a minha missão.
O quê? Encerrou o expediente? Mas, assim…
Espero o Sacramenta/Nazaré, suado, molhado, um soninho gostoso.
Eu juro, por Nossa Senhora: ano que vem escrevo sobre Belém.
Égua, lá vem o sacrabala…